invernal

Dizem que não sinto, que sou frio, que não amo, que não me importo, que a minha grosseria é por pura crueldade. Me chamam de Coração Gelado, de Homem de Gelo, de Elza…

Não entendem que sou filho do inverno, que sou mesmo gelado, que vivo no frio, que me sinto bem nele. Mas também não entendem que sou um vulcão por dentro, que queimo em meu interior, que o magma que corre nas minhas veias vão direto para o meu núcleo…

O coração…

Esquecem que estou vivo, que sou transtorno e transtornado, que me sacudo em fúria e explodo queimando tudo ao meu redor. Esquecem que quando faço essas coisas, eu me queimo também, mas aí me querem gelado, pois é mais fácil lidar com a neve do que com o fogo. O meu coração se agita, pois fico a pulsar liberando o calor que sou, que me aquece por dentro.

A fina camada de gelo que há em mim se dissolve e evapora, então o fogo líquido que escorre pelos meus poros devasta tudo em meu caminho. Nessas horas fogem de mim, querem a liberdade, querem sobreviver, embora seja um tremendo descompasso, pois há pouco me queriam ardente e quando ardo querem distância.

E em minha solidão, eu preciso esfriar outra vez, volto a ser gelado, volto a ser filho do inverno, volto a viver no frio.

De onde eu nunca deveria ter saído.

Um certo dia de Verão.
Terça-feira, 20 de Dezembro de 2016.

Ares Andreiphontês

Deixe um comentário